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Enéada VI, 3, 8 — A realidade sensível não é senão uma sombra da realidade inteligível

8. Mas talvez seja preciso abandonar essas divisões em forma e matéria, sobretudo quando se fala da realidade sensível que convém apreender pela sensação e não pela razão, e fazer de conta que a forma e a matéria das quais é composta não existissem – pois a forma e a matéria não são realidades, em todo caso não realidades sensíveis –, colocando em um só e mesmo gênero o que há de comum à pedra, à terra, à água e às plantas que são constituídas desses elementos, e mesmo aos animais, dado que são coisas sensíveis. Se procedermos assim, nem a matéria nem a forma serão deixadas de lado, pois a realidade sensível as contém ambas. O fogo, a terra e os elementos que se encontram entre eles são, de fato, matéria e forma; e os compostos resultam da reunião de várias realidades reunidas em uma só e mesma coisa. E o que há de comum a todas essas coisas é a maneira como elas se distinguem das outras. São, de fato, substratos para as outras coisas, e não estão em um substrato nem são substrato de outra coisa. E tudo o que foi dito se aplica no caso presente.

– Mas se não há realidade sensível sem grandeza nem qualidade, como poderemos ainda colocar os acidentes à parte? Pois se colocarmos à parte as seguintes coisas, a grandeza, a figura, a cor, a secura, a umidade, o que vamos reter como sendo a própria realidade? Pois as realidades sensíveis são realidades qualificadas.

– Mas o que recebe as propriedades que fazem da realidade bruta uma realidade qualificada? Não é o fogo que em seu conjunto será realidade, mas algo dele, uma parte, por assim dizer, não é?

– E o que pode ser isso?

– É a matéria.

– Mas então a realidade sensível se reduz a um conglomerado de qualidades e de matéria? Reunidas todas juntas em uma matéria única, essas coisas constituiriam uma realidade, mas tomadas cada uma à parte, não seriam senão qualidade e quantidade, ou no máximo uma pluralidade de qualidades. E será que o que, quando a falta se faz sentir, ainda não permite a vinda à existência de uma existência acabada é uma parte da realidade, enquanto o que vem se adicionar a uma realidade já vinda à existência encontra o lugar que lhe é próprio em vez de permanecer escondido na mistura que produz o que se chama «realidade»? Não quero dizer que é uma realidade o que, com os outros constituintes, contribui aqui para completar uma massa única provida de quantidade e de qualidade, enquanto em outro lugar, quando essa mesma coisa não contribui para essa tarefa, é uma qualidade; no entanto, mesmo aqui, o que é uma realidade não é tampouco cada constituinte, mas o conjunto que provém de todos os constituintes. Não se deve ficar chocado pelo fato de produzirmos a realidade sensível a partir de coisas que não são realidades verdadeiras. O universo sensível em si mesmo, de fato, não é uma realidade verdadeira, mas uma imagem da realidade verdadeira, que não tira o ser de nenhuma das outras coisas que a ela se referem, ao passo que é dela que vêm as outras coisas, porque ela é verdadeiramente. Mas aqui, o que está subjacente é estéril e incapaz de ser um ser verdadeiro, porque as outras coisas não vêm dele, pois é uma sombra, e que, sobre o que não é senão uma sombra, aparece apenas um desenho, uma aparência.

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