Enéada VI, 1, 25 – O "ti" (o que)
Contra aqueles que postulam quatro gêneros, que dividem os seres em quatro gêneros, substratos, qualidades, modos de ser e modos de ser relativos, e que sustentam que há algo em comum a todos, que englobam todos esses gêneros em um gênero único, há muito a dizer, porque eles tomam como certo que há algo em comum e um gênero único. Que coisa incompreensível, que absurdo é esse « algo », e como é inadequado tanto aos incorpóreos quanto aos corpos! Além disso, eles não deixaram lugar para as diferenças, por meio das quais poderiam estabelecer distinções nesse « algo ». E ainda, esse « algo » é ou um ser, ou um não-ser. Se, portanto, é um ser, trata-se de uma de suas espécies. Mas se é um não-ser, o ser é um não-ser. Poder-se-iam levantar milhares de outras objeções, mas deixemo-las de lado por enquanto e concentremo-nos na própria divisão. Ao colocar os substratos em primeiro lugar, e ao colocar, por isso, a matéria antes de todas as outras coisas, eles colocam assim o que lhes parece ser o primeiro princípio no mesmo plano que as coisas que vêm depois de seu princípio. E, em primeiro lugar, eles reduzem a um gênero único o que vem antes e o que vem depois, enquanto não é possível que se encontrem no mesmo gênero o anterior e o posterior, pois, nas coisas em que há anterior e posterior, o posterior tem seu ser do anterior, enquanto nas coisas que caem sob o mesmo gênero, cada uma recebe desse gênero uma parte igual de ser, se é verdade que o gênero deve ser o que é predicado das espécies na definição; ora, eles sustentarão, imagino, que é da matéria que os outros seres têm seu ser. Em seguida, ao contar o substrato como uma única coisa, eles não empreendem uma enumeração dos seres, mas estão em busca dos princípios dos seres. Ora, falar dos princípios não é falar dos próprios seres. E se eles dizem que só a matéria existe, e que as outras coisas não são senão afecções da matéria, não há necessidade de colocar antes do ser e das outras coisas um gênero único. Teria sido melhor que dissessem que havia de um lado a realidade, do outro as afecções, e que fizessem distinções entre estas últimas. É absurdo dizer que há por um lado substratos e por outro o resto das coisas, enquanto o substrato é único e não admite nenhuma outra diferença senão a de ser cortado em partes, como se corta uma massa em partes – e no entanto ele não pode nem mesmo ser dividido em partes, já que eles dizem que a realidade decorre da continuidade –; teria sido melhor falar do « substrato ».
