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Enéada VI, 1, 22 — O agir e o padecer

Assim, o padecer nasce porque tem em si um movimento que é um movimento de alteração qualquer que seja a maneira de se alterar. E agir é ter em si um movimento independente que procede de si, ou um movimento que, procedendo de si, termina em outra coisa, um movimento que toma seu impulso na coisa que se diz agir. Há movimento nos dois casos. Mas a diferença que permite distinguir o agir do padecer é que o agir enquanto agir permanece isento de padecer, enquanto o padecer consiste, para o que padece, no fato de ser disposto de outra forma do que era antes, sem, aliás, que a realidade do paciente ganhe algo do ponto de vista da realidade, dado que é outra coisa que é o paciente, quando nasce uma realidade. Resulta daí que é o mesmo movimento que será de um certo ponto de vista agir, e de outro padecer, e que será, enquanto esse movimento permanece o mesmo, considerado de uma forma como agir, e de outra como padecer, porque o sujeito é disposto da mesma maneira. Assim, um e outro correm o risco de ser relativos, em todos os casos em que o agir é relativo ao padecer; é a mesma coisa que, considerada de uma forma, parece agir, e de outra, padecer. E cada um dos dois é considerado não em si, mas o agente com o paciente e inversamente: « este move, aquele é movido », e isso faz duas categorias em cada caso. « Este dá àquele o movimento, enquanto aquele o recebe », de modo que há doação e recepção, ou seja, relação. – Mas se aquele que recebe algo o « tem », no sentido em que se diz « ter uma cor », por que não dizer também ele « tem » o movimento, e se se trata de um movimento independente, como « andar », que ele « tem » a caminhada, e que ele « tem » a intelecção? É preciso igualmente perguntar se prever é agir, e se beneficiar da previdência é padecer, pois a previdência é dirigida para outra coisa e concerne a outra coisa. – Não, prever não é agir, mesmo que pensar se faça a propósito de outra coisa, e beneficiar da previdência, não é padecer. Ou antes pensar, não é tampouco agir, pois não se pensa agindo sobre o objeto pensado, mas a propósito desse objeto; não é em nenhum caso uma ação. É preciso ainda se guardar de dizer que todos os atos são ações e que eles produzem algo. Se há ação, é por acidente. – O quê? Se caminhando alguém deixa rastros, não vamos dizer que não os fez? – Sim, ele os fez, mas isso provém do fato de que aquele que caminha é outra coisa. Ou melhor, produzir rastros é um acidente, o ato de caminhar não produzindo rastros senão por acidente, porque o fato de caminhar não visava esse resultado; é assim que ocorre com os seres inanimados dos quais dizemos que agem, por exemplo quando dizemos que o fogo aquece e que o medicamento age. Mas basta sobre o assunto.

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