Enéada I, 3 (20) 6 – As partes da filosofia e a realização da dialética.

6. A dialética é, portanto, a parte mais preciosa. A filosofia, de fato, possui ainda outras partes. A filosofia considera também a natureza com a ajuda da dialética, assim como as outras técnicas utilizam as matemáticas. Não obstante, a filosofia que se interessa pela natureza se encontra mais perto da dialética. Assim como a filosofia que se interessa pelos costumes deriva dela, mas acrescentando as disposições e os exercícios de onde vêm essas disposições. As disposições intelectuais vêm da dialética, como se ela as possuísse já em próprio; de fato, mesmo que elas estejam com a matéria, a maioria vem de lá. As outras virtudes aplicam seus raciocínios às afecções particulares e às ações, mas a reflexão é uma espécie de raciocínio superior que se relaciona mais com o universal. Ela considera a questão de sua implicação mútua, se é preciso ter essa conduta agora ou mais tarde, ou se uma conduta radicalmente outra não seria preferível. A dialética e o saber fornecem ainda à reflexão tudo o que ela deve usar de modo universal e não material. – As virtudes inferiores podem existir sem a dialética e o saber? – Sim, mas de forma incompleta e defeituosa. – Alguém pode ser um sábio e um dialético sem essas virtudes inferiores? – Não, isso não pode ser. Elas devem estar antes ou acompanhar o saber e a dialética em seu desenvolvimento. Se supõe que alguém já possui as virtudes naturais, a partir das quais se desenvolverão as virtudes perfeitas com a vinda do saber, é preciso nesse caso dizer que é depois das virtudes naturais que vem o saber e que é em seguida que os costumes se tornam perfeitos. Outra possibilidade: se as virtudes naturais estão lá, virtudes naturais e saber crescem juntos e se aperfeiçoam mutuamente. De modo geral, de fato, as virtudes naturais apresentam imperfeição na visão e no caráter moral, e os princípios dos quais as temos são a coisa mais importante para ambas.