====== Górgias 462a-462e — Retórica como savoir-faire cuja meta é o consenso ====== Sócrates — Nesse caso, tu também te colocas à disposição de qualquer pessoa para responder às perguntas que lhe aprouver dirigir-te? Polo — Perfeitamente. Sócrates — Escolhe, pois, o que quiseres: responder ou perguntar. XVII — Polo — É o que vou fazer. Então responde-me, Sócrates: já que és de parecer que Górgias não soube dizer o que é retórica, que achas que ela seja? Sócrates — Perguntas que espécie de arte eu presumo que ela seja? Polo — Justamente. Sócrates — Não é arte de espécie alguma, Polo, para dizer a verdade. Polo — Então, que te parece que seja? Sócrates — Algo a respeito do que afirmaste que tinhas feito uma arte, segundo li recentemente num escrito teu. Polo — Que queres dizer com isso? Sócrates — É uma espécie de rotina. Polo — Achas, então, que a retórica seja uma rotina? Sócrates — É o que penso, se não tiveres nada a objetar. Polo — Rotina, de que espécie? Sócrates — Para produzir prazer e satisfação. Polo — E não te parece uma bela coisa a retórica, se é capaz de proporcionar prazer aos homens? Sócrates — Que é isso, Polo! Já me ouviste dizer o que na minha opinião é a retórica, para me perguntares agora se não a considero uma bela coisa? Polo — Não fiquei sabendo que a consideras uma espécie de rotina? Sócrates — Já que tanto gostas de comprazer aos outros, não quererás porventura proporcionar-me um pequenino prazer? Polo — Com todo o gosto. Sócrates — Então, pergunta -me que espécie de arte, a meu ver, é a culinária. Polo — É o que passo a fazer: que arte é a culinária? Sócrates — Nenhuma, Polo. Polo — Que é, então? Explica-te. Sócrates — Direi que é uma espécie de rotina. Polo — Rotina, de que jeito? Fala. Sócrates — Pois direi, Polo, que proporciona prazer e satisfação. Polo — Então, culinária é a mesma coisa que retórica? Sócrates — De forma alguma; ambas são partes da mesma atividade. Polo — A que atividade te referes?